Como a Bíblia define o escárnio?

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O conceito de desprezo é um tema profundo e recorrente na Bíblia, particularmente na literatura de sabedoria, como o Livro de Provérbios. Para entender como a Bíblia define o desprezo, é crucial mergulhar na língua hebraica original, no contexto em que o termo é usado e nas implicações teológicas mais amplas.

No Livro de Provérbios, a palavra hebraica frequentemente traduzida como "desprezo" ou "escarnecedor" é luts (לוץ). Este termo transmite uma sensação de zombaria, escárnio ou desdém. Um escarnecedor é alguém que não apenas discorda da sabedoria e da instrução, mas o faz com uma atitude de arrogância e desdém. Essa atitude não é meramente uma descrença passiva ou ceticismo; é uma rejeição ativa, desdenhosa e muitas vezes vocal da sabedoria e da orientação moral.

Provérbios 1:22 fornece uma ilustração vívida dessa atitude: "Até quando, ó simples, amareis a simplicidade? Pois os escarnecedores se deleitam no seu escárnio, e os tolos odeiam o conhecimento." Aqui, o escarnecedor é retratado como se deleitando no seu escárnio, sugerindo que isso não é um mero lapso de julgamento, mas uma escolha deliberada de rejeitar a sabedoria. Esta passagem destaca um aspecto crítico do desprezo: ele é auto-reforçador. O escarnecedor se compraz no seu escárnio, o que o enraíza ainda mais na sua insensatez.

A Bíblia contrasta o escarnecedor com o sábio, que busca conhecimento e entendimento. Provérbios 9:7-8 adverte contra corrigir um escarnecedor: "Aquele que corrige um escarnecedor atrai para si vergonha, e o que repreende um homem ímpio só se prejudica. Não corrijas o escarnecedor, para que não te odeie; repreende o sábio, e ele te amará." Esta passagem sublinha a futilidade de tentar transmitir sabedoria a alguém que não é apenas não receptivo, mas hostil a ela. O coração do escarnecedor está fechado, e qualquer tentativa de corrigi-lo provavelmente será recebida com animosidade em vez de reflexão ou arrependimento.

A atitude do escarnecedor não é apenas uma falha pessoal; tem implicações sociais e espirituais mais amplas. Provérbios 21:24 descreve o escarnecedor como "orgulhoso e arrogante", sugerindo que o desprezo está intimamente ligado ao orgulho. Essa atitude orgulhosa perturba a harmonia comunitária e mina o tecido social promovendo divisão e discórdia. Os escarnecedores são frequentemente retratados como aqueles que semeiam contenda e conflito, como visto em Provérbios 22:10: "Lança fora o escarnecedor, e a contenda sairá; sim, cessarão a contenda e a vergonha." A remoção do escarnecedor leva à paz, indicando seu papel como catalisador de agitação.

De uma perspectiva teológica, o desprezo é um reflexo de um problema espiritual mais profundo: a rebelião contra Deus. A rejeição do escarnecedor à sabedoria é, em última análise, uma rejeição da autoridade e instrução de Deus. Em Provérbios 3:34, lemos: "Certamente Ele escarnece dos escarnecedores, mas dá graça aos humildes." Este versículo revela que o próprio Deus se opõe aos escarnecedores, alinhando a justiça divina contra aqueles que persistem em sua zombaria e orgulho. Por outro lado, a humildade é recebida com graça, destacando o princípio bíblico de que Deus honra aqueles que são ensináveis e abertos à Sua orientação.

O Novo Testamento ecoa esse tema, enfatizando os perigos das atitudes escarnecedoras. Nos Evangelhos, Jesus frequentemente encontrou desprezo dos líderes religiosos que rejeitaram Sua mensagem. Seu desprezo não era apenas dirigido a Jesus como pessoa, mas à sabedoria transformadora e à verdade que Ele incorporava. Essa rejeição culminou na crucificação, onde Jesus experimentou o desprezo e a zombaria máximos daqueles que não conseguiram reconhecê-Lo como o Messias. No entanto, através de Sua ressurreição, Jesus demonstrou que a sabedoria divina triunfa sobre o desprezo humano.

A literatura e o pensamento cristãos há muito refletem sobre a natureza do desprezo e suas implicações para a vida pessoal e comunitária. C.S. Lewis, em seu livro "Cristianismo Puro e Simples", explora o pecado do orgulho, que está intimamente ligado ao desprezo. Lewis argumenta que o orgulho é a raiz de todos os outros pecados, pois leva os indivíduos a se colocarem acima dos outros e, em última análise, acima de Deus. Esse desprezo orgulhoso cega os indivíduos para sua necessidade de graça e redenção, isolando-os do poder transformador do amor de Deus.

Em termos práticos, os ensinamentos da Bíblia sobre o desprezo oferecem orientação para a conduta pessoal e a vida comunitária. Para os indivíduos, o chamado é cultivar a humildade e a abertura à sabedoria, reconhecendo que o verdadeiro entendimento vem de uma postura de aprendizado e reverência pela instrução de Deus. Isso envolve uma disposição para ouvir, ser corrigido e crescer em sabedoria e entendimento.

Para as comunidades, o desafio é abordar as atitudes escarnecedoras que possam surgir e fomentar um ambiente onde a humildade e o respeito mútuo sejam valorizados. Isso pode envolver estabelecer limites com aqueles que persistentemente semeiam discórdia e criar espaços onde o diálogo construtivo e o aprendizado possam florescer.

Em conclusão, a Bíblia define o desprezo como uma atitude profundamente enraizada de rejeição orgulhosa da sabedoria e da instrução. É caracterizado por zombaria e escárnio, muitas vezes levando à divisão e ao conflito dentro das comunidades. De uma perspectiva teológica, o desprezo representa uma rebelião contra Deus e Sua autoridade. A resposta bíblica ao desprezo é cultivar a humildade, buscar a sabedoria e fomentar uma comunidade que valorize a graça e o entendimento. Através desses esforços, indivíduos e comunidades podem resistir aos efeitos corrosivos do desprezo e abraçar o poder transformador da sabedoria de Deus.

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